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Revista da CAASP -Edição 15

Arquivo S.N. Nasser: “as liberdades são um novo sagrado. É preciso interpretá-las” Fevereiro 2015 / Revista da CAASP // 21 explicam-se muito mais em termos de psique, individual e coletiva, e a luta contra eles deve se dar em práticas de convivência que tragam à tona a consciência acerca do fato de que o outro, apesar das diferenças, é na essência um igual”. O momento mundial é de crise econômica, ressalte-se. Ocasiões assim costumam favorecer retrocessos em várias frentes. A hora é de muita atenção. Católicos e evangélicos no ringue das TVs Na década de 90, quando a TV Record começou a crescer, a Rede Globo mobilizou seu departamento de jornalismo para divulgar os pecados do bispo Edir Macedo. O jornal O Globo escrevia bispo entre aspas, como se o termo só pudesse ser aplicado à Igreja Católica, embora a palavra tenha um sentido amplo, cabendo a qualquer líder espiritual ou mesmo a superintendentes de instituições religiosas. A dramaturgia da Globo também entrou em cena. A série Decadência mostrava um pastor ambicioso e corrupto. O troco da Record era dado num programa de debates que se estendia até a madrugada, o 25ª Hora. Uma das estrelas do programa era Silas Malafaia, outro destaque era o deputado Carlos Apolinário, liderança na Assembleia de Deus. A participação custou a Apolinário o cargo de presidente da Comissão de Comunicação da Câmara, importante na análise das concessões de rádio e TV. Depois de ter sido escolhido para o cargo, a Globo usou seu peso para derrubá-lo, e o PMDB retirou o nome de Apolinário. Nesta disputa, em que a Globo era vista como porta-voz dos católicos, com a transmissão da missa do Padre Marcelo e a produção de uma novela sobre Aparecida, a Record trocou as mãos pelos pés, literalmente, no episódio conhecido como “chute na santa”. No dia de Nossa Senhora Aparecida (12 de outubro), um pastor exaltado deu vários pontapés numa estatueta da padroeira, e a Record recebeu ameaças, num caso considerado de extrema falta de respeito pelos evangélicos. “Foi um dos piores momentos da minha vida”, disse o próprio Edir Macedo. O autor do gesto infame, pastor Sérgio von Helder, deixou a TV e o Brasil, transferido para uma igreja em outro continente. A Record, sob Edir Macedo, ecoava os sermões da Igreja Universal do Reino de Deus, em que os ataques às religiões de matriz africana eram constantes. Mas os ataques tiveram resposta, por imposição da Justiça. Em 2005, a emissora foi obrigada a veicular durante sete dias a fala de alguns pais de santo. Depois disso, a preocupação da Record com o Candomblé perdeu força. Mas a mensagem de Edir Macedo sobre a religião chegou longe. Um livro de sua autoria que define orixás como demônios chegou a vender quase 4 milhões de cópias, antes de ser proibido de circular em alguns estados por ser considerado estímulo ao preconceito. Sérgio von Helder chutou a santa e deixou o Brasil


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