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Revista da CAASP -Edição 15

ESPECIAL \\ Foto Mariana Rafael (Agência Brasília) Intolerância, ódio, preconceito: todos vivos no Século XXI “Há uma tendência à rejeição, que induz a olhar o próximo não como um irmão a ser acolhido, mas como alguém deixado fora do nosso horizonte de vida pessoal, Diplomatie France transformando-o, antes que em concorrente, em súdito a ser dominado. Trata-se de uma mentalidade geradora da cultura do descarte, que não poupa nada e ninguém. De tal cultura nasce uma humanidade ferida, continuamente dilacerada por tensões e conflitos de toda espécie. Um triste eco disso nós encontramos em numerosos fatos referidos nas notícias cotidianas, como o trágico massacre que há dias aconteceu em Paris.” 16 // Revista da CAASP / Fevereiro 2015 Reportagem de Paulo Henrique Arantes* As palavras do Papa Francisco reproduzidas acima foram proferidas em 12 de janeiro, durante encontro anual do corpo diplomático atuante junto à Santa Sé. O “trágico massacre” a que o pontífice se referiu, por óbvio, é a chacina dos chargistas do periódico de humor francês Charlie Hebdo, mas a citada “cultura do descarte” vai muito além do monstruoso atentado. Em pleno Século XXI, cidadãos do Terceiro ao Primeiro Mundo são descartados com ódio em razão de sua religião, de sua nacionalidade, de sua cor, de sua opção sexual, de suas preferências políticas. A intolerância recrudesce. Em 2015 sobrevive o antissemitismo, por exemplo, com o ressurgimento de lideranças ultranacionalistas para quem os campos de concentração nazistas foram mero detalhe durante Segunda Guerra Mundial, como os franceses Jean-Marie Le Pen e sua filha Marine, que vociferam contra os imigrantes em geral. Paralelamente, parece haver um empenho multinacional por tachar de terroristas os muçulmanos, e para tanto contribuem decisivamente organizações jihadistas como a Al-Qaeda, que assumiu a autoria do atentado ao Charlie Hebdo, e o Estado Islâmico ou Isis (Islamic State in Iraq and Syria), protagonista de uma série de decapitações filmadas. Livre para expressar-se, o Charlie Hebdo ofendeu os muçulmanos, na visão destes, ao expor e ridicularizar o profeta Maomé. Mas por que achar que os legítimos adeptos da fé islâmica teriam o ímpeto de tramar a dizimação dos humoristas em retaliação? “Quem acredita nisso


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