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Revista da CAASP -Edição 12_-

EENNTTRREEVVIISSTTAA \\ E quanto à Camorra? Como ela atua? A napolitana Camorra não é piramidal, mas horizontalizada. São vários grupos que, quando necessário, se unem. Internamente, tem toda uma hierarquia, todo um código de honra, embora sob uma ética ambígua, obviamente. A Camorra domina a contrafação da alta costura. Se você leu o livro “Gomorra”, do jornalista Roberto Saviano, ou assistiu ao filme de mesmo nome, você sabe como é. Eu estive em Casal di Principe, na região da Campânia, considerada a capital mundial da contrafação. Eu estava fazendo um trabalho de assessoria à União Europeia e consegui ter contato o pai de um camorrista. O que o velhinho me disse comprova tudo que o Saviano relatou. Ele me afirmou sobre o livro do Saviano, como todo camorrista faz: “Esse livro é uma fantasia”. Em determinado ponto da conversa, ele me explicou que as grandes grifes têm muita despesa trabalhista, e fica muito caro contratar artesãos. Então, a Camorra contrata o artesão e as grifes encomendam, por exemplo, 200 peças. Só que são fabricadas milhares. Qual vantagem da grife? – perguntei-lhe. E ele me explicou: “A grife vai vender caro na loja para os seus clientes, mas tem interesse em divulgar a marca. Então nós jogamos igualzinho no mercado informal, e isso é bom para as grifes, a ponto de a dona de uma grande loja dizer ‘a minha não é falsificada’”. Bem, o velhinho me perguntou onde eu estava hospedado. Eu disse que estaria em Roma até o dia 23 daquele mês - estávamos em dezembro. Então ele falou: “O senhor vá a qualquer loja do centro de Roma, no quadrilátero da moda, e verá exatamente esta bolsa, nesta cor, a partir do dia 10”. Deixei para o dia 11. Estava tudo lá, o mesmo modelo, a mesma cor – por sinal, um verde muito bonito. No Brasil, são raras notícias sobre ações de máfias transnacionais. Elas não atuam por aqui? Atuam. Não podemos esquecer de que, num passado até recente, um grande chefe mafioso, o Tommaso Buscetta, foi capturado no Brasil. Perceba a transnacionalidade: quando Buscetta se tornou colaborador da Justiça, nem o próprio Estado italiano tinha como lhe garantir segurança. Ele foi para os Estados Unidos, onde morreu de câncer. Isso mostra a infiltração. Quanto ao Brasil, não temos um tipo penal específico para esse tipo de organização, então cai todo mundo em quadrilha ou bando. Não é necessário atacar o principal produto das máfias, que são as drogas? O que eu vou dizer vale para todas as máfias, como as chinesas e a japonesa Yakuza, além das italianas. No mundo inteiro, as polícias conseguem apreender no máximo de 3% a 5% da droga que 12 // Revista da CAASP / Agosto 2014 “O Brasil não tem um tipo penal para organização criminosa”


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