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Revista da CAASP - Edição 09 -

\\ Riccardo Cucciolla e Gian Maria Volonté, nas peles de Sacco e Vanzetti. 44 // Revista da CAASP / Fevereiro 2014 Condenados em 1921, segundo o filme, enquanto Sacco e Vanzetti aguardavam a execução na Casa da Morte, outro preso confessou ter participado do crime, que teria sido obra de uma quadrilha organizada e, de fato, indicou a arma utilizada, de idênticas características balísticas, que não fora uma Colt. Processos e provas relacionados a essa quadrilha desapareceram dos arquivos oficiais. A justiça negou novo julgamento requerido em 1927, e os dois anarquistas italianos foram levados à cadeira elétrica no dia 23 de agosto daquele ano. No período decorrido de sua prisão até a execução, centenas de milhares de pessoas no mundo todo protestaram contra a injustiça da condenação, em especial o operariado sindicalizado. Em São Paulo houve greves e agitação nos bairros operários. Forte repressão policial foi utilizada para conter manifestações nos Estados Unidos e no exterior. Também figuras notáveis da intelectualidade e da política pediram clemência aos condenados, assim como líderes religiosos, entre eles o próprio Papa. Para entender-se o sacrifício desses homens que a História consagrou como inocentes mártires da Anarquia, a partir de um crime de 1920, é preciso situar o contexto histórico político e econômico da época, agitado por graves mudanças políticas e econômicas internacionais e na sociedade americana, considerando entre outros fatos o fim da Primeira Guerra em 1918 e a readaptação do país a uma economia pós-guerra, a Revolução Bolchevique de 1917 com a consequente criação do Partido Comunista americano em 1919 e, acima de tudo, a própria atuação do movimento anarquista, cuja estratégia de luta anticapitalista nos EUA incluía a prática de atentados a bomba contra autoridades. Todos esses fatores geravam turbulência, risco e instabilidade na sociedade americana, o que, agravado pelo desemprego, só fazia crescer os sentimentos xenófobos, em especial contra os italianos. A “condenação exemplar” de Sacco e Vanzetti, refere-se Montaldo no filme, relaciona-se à mudança de uma política de deportação dos estrangeiros que cometessem delitos. Os imigrantes seriam assimilados no país, não mais deportados, como vinha sendo a política anterior americana, mas seu respeito às leis deveria ser absoluto.


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