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Revista da CAASP - Edição 09 -

Mas os problemas de Fernanda não se acabaram. Ela evacuava 24 vezes por dia e sofria com as assaduras frequentes. Era preciso recorrer a produtos importados para aliviar o sofrimento a criança. Para aprender a vencer as dificuldades decorrentes da Síndrome de Down, Fernanda teve de fazer fisioterapia e, posteriormente, fonoaudiologia. “Aos 9 meses ela conseguia ficar sentada. Aos 2 anos ela começou a andar. Aos 5 anos, ela conseguiu falar ‘mamãe’. Todas essas conquistas, que podem parecer tardias para outras crianças, foram motivos de um orgulho imenso para mim”, emociona-se. Imersa na rotina de hospitais e terapias, Valdete quase que nem percebeu que deixara de trabalhar. “Eu amava e ainda amo a advocacia, mas a minha filha precisava e ainda precisa de mim”, afirma. Na época, os gastos com a saúde da filha e os cuidados com a casa eram subsidiados pela tia e pelo pai de Fernanda. Em 2004, o pai de Fernanda foi embora. “Ele era português e o pai dele estava na Venezuela. Ele disse que ia procurar o pai, e nunca mais voltou”, conta Valdete. Ainda assim, ela lembra com carinho a figura do ex-companheiro. “Enquanto ele esteve presente, foi um pai carinhoso. Mas ele não tinha a força que eu tive para enfrentar todas as situações.” Sozinha e sem poder trabalhar por causa da filha, Valdete pediu socorro à Caixa de Assistência dos Advogados de São Paulo. Chegou à CAASP por indicação da colega e amiga Elenice Maria de Sena, a quem deve seu conhecimento prático de advocacia. Valdete solicitou à CAASP, incialmente, o auxílio-educação, uma das modalidades de benefício que a entidade oferece aos advogados em situação de carência. Posteriormente, outros pedidos foram atendidos por conta de sua situação extremamente difícil. Desde 2005, ela e a filha são assistidas pela Caixa, recebem auxilio mensal e auxílio-educação, cartão-alimentação e guias de atendimento médico. “São muitas as despesas. Fernanda não pode ficar sem convênio médico, portanto, pago um plano privado para ela. Já eu, não possuo, mas graças à CAASP tenho acesso a uma ótima rede, mesmo sem convênio”, diz. Com tudo isso, Valdete ainda consegue trabalhar na Assistência Judiciária. Não tem condições de assumir grande número de causas, mas o suficiente para se manter ativa na profissão e completar renda. Ela e a filha moram numa casa cedida pela irmã. Ao longo dos anos, os problemas de saúde de Fernanda nunca deram trégua. Ela teve de se submeter a cirurgias para corrigir o canal lacrimal, retirar as amígdalas e fechar uma comunicação intraventricular. Isso sem contar as infecções em decorrência da saúde fragilizada pelas constantes operações. Aos 12 anos, Fernanda ainda não é alfabetizada. Apesar de frequentar a escola desde os três anos, sua deficiência intelectual, de grau moderado, dificulta o aprendizado. Ainda assim a mãe faz questão que ela nunca pare de evoluir. Além da escola, adicionou sessões de terapia com uma psicopedagoga. O maior desejo de Valdete? Fazer da filha alguém minimamente independente. “Eu não sou eterna. Quem ficará com minha filha quando eu me for?”, indaga. Fevereiro 2014 / Revista da CAASP // 37


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