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Revista da CAASP - Edição 09 -

necessários sejam levantados com doações individuais é apostar em algo altamente improvável”, pondera o cientista político. “A ideia de excluir as empresas parece refletir velhos preconceitos anticapitalistas, um desejo de tudo regulamentar, com base na crença infundada de que o processo político será tanto melhor, honesto e altruísta quanto mais regulamentado for”, nota. O financiamento público, crê Lamounier, aumentaria o desequilíbrio entre governo e oposição e promoveria o que chama de “igualdade perversa”, aumentando as chances eleitorais de siglas inexpressivas. Quanto à corrupção em tese decorrente das doações feitas pela iniciativa privada, Bolívar Lamounier deixa indagações: “Qualquer que seja o sistema de financiamento, é lógico que a fiscalização é necessária, usando-se toda a tecnologia atual, agilizando-se as prestações de contas dos partidos, assegurando-se transparência e acabando-se com a impunidade. Agora, por que imaginar que só empresas privadas têm interesses ilegítimos? Por que não certas ONGs, certos sindicatos, certas empresas estatais?”. Também para o cientista político Paulo Kramer a presença do poder econômico não compromete o caráter democrático das campanhas eleitorais, tampouco leva à concessão de “benesses” aos maiores doadores. “A contribuição de campanha pode ajudar o doador no item ‘acesso’, mas não lhe garante um retorno sempre favorável. Quanto mais diversificadas as fontes de financiamento de um candidato, maior é sua independência”, argumenta. Corrupção, sempre corrupção. Como acabar com ela? Vale a resposta do sociólogo Francisco de Oliveira: “Nada evita a corrupção, a não ser um trabalho educacional de décadas”. Professor aposentado do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, Chico de Oliveira é um dos ideólogos e fundadores do PT, partido que deixou em 2003, logo que Luiz Inácio Lula da Silva ascendeu à Presidência da República. Hoje é filiado ao Psol, mas sem demonstrar qualquer entusiasmo: “Os campos políticos estão preenchidos pelo PT e pelo PSDB”. Sobre a movimentação atual em torno da reforma política, ele sentencia: “É enrolação”. A conferir. Fevereiro 2014 / Revista da CAASP // 23 Divulgação Agência Estado Chico de Oliveira: “Nada evita a corrupção, só um trabalho educacional de décadas.”


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