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Revista da CAASP - Edição 05

Arquivo pessoal A. C. Marques Ana Cecilia, do Inpad: “No Brasil, controle de oferta é zero” Junho 2013 / Revista da CAASP // 37 Vender bebida alcoólica a menor de 18 anos, mesmo que acompanhados dos responsáveis, é crime no Brasil e acarreta multa ao estabelecimento que o fizer. Mas, na prática, o que se vê é o total desrespeito à lei. “A neurociência já constatou que o cérebro humano só amadurece aos 24 anos. Enquanto países do mundo todo efetuam mudanças em suas legislações, o Brasil segue liberando etanol a indivíduos em plena formação”, adverte Ana Cecília, e completa: “As propagandas visam a iniciar os adolescentes, com suas publicidades de conteúdo sexista, e até crianças, com a criação de músicas e animações”. Vários projetos de lei que prometem combate ao álcool tramitam no Congresso Nacional, mas legislar a respeito não é tudo. “Se seguirmos criando somente leis, corremos o risco de controlar só uma parte do problema. É preciso orientar a população sobre o porquê da existência da lei. Ao mesmo tempo é preciso investir em outras áreas, como o tratamento ao dependente”, afirma a psiquiatra. O Brasil não mede a mortalidade pelo álcool, mas estima-se que 2% dos consumidores morram de doenças decorrentes do abuso da bebida. Esse percentual, contudo, não leva em conta as vítimas de acidentes de trânsito provocados por motoristas embriagados, por exemplo. Para baixar os altos índices de desastres provocados por bêbados é que foi criada a chamada Lei Seca, em 2008. Revista no fim do ano passado, a Lei Seca decretou tolerância zero aos motoristas que misturem bebida e direção, e os efeitos foram sentidos de imediato: durante as festas de fim de ano, de 21 de dezembro 2012 a 2 de janeiro 2013, o índice de acidentes foi reduzido em 18% em relação ao mesmo período de 2011-2012. No inicio de 2013, a consultoria Economatica divulgou o ranking das dez maiores empresas da América Latina. A Ambev (Companhia de Bebidas das Américas), que produz as principais marcas de cerveja do país, foi a que teve maior aumento de valor de mercado em 2012. Como impedir a proliferação do álcool no Brasil, quando a mais valiosa empresa do continente sobrevive justamente de seu consumo? “Os governantes devem cortar os laços com a indústria de bebida alcoólica, ou continuaremos sofrendo as consequências”, defende a especialista da Unifesp, referindo-se ao forte lobby que esses grupos exercem sobre os Poderes Legislativo e Executivo.


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