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Revista da CAASP - Edição 05

contatos com os revolucionários como se nem tivesse sido preso, e a partir disso localizou pessoas, prendeu-as e matou-as. Convenhamos, isso é realmente uma coisa de James Bond – e foi isso que o Fleury fez. Em aparecimentos na TV, o Cabo Anselmo não parece um sujeito no perfeito domínio das faculdades mentais. Eu procurei fazer um quadro psicológico do Anselmo no meu livro como alguém que ficou órfão após a morte do Fleury. Porque o Fleury lhe fez a lavagem cerebral, usou todas as informações dele, foi o ícone da repressão no extermínio dos grupos da militância armada, fez com que ele se submetesse a uma cirurgia plástica no Hospital Albert Einstein e mudasse de rosto, providenciou-lhe uma documentação nova – o Anselmo hoje não existe, é um fantasma. Aí o Fleury morre e o Anselmo fica absolutamente só, e ele não consegue entender porque jogou toda sua vida em uma empreitada que deu no que deu. Hoje, o Cabo Anselmo vive uma situação em que alguns de seus perseguidos estão no poder e ele é alvo de chacotas e perseguições. Ele não consegue assimilar isso. Como era a personalidade do delegado Fleury, que personificou o terror do Estado? Eu conheci o Fleury no Deic antes de ele assumir o Dops (Departamento de Ordem Política e Social). Era basicamente um caçador de ladrões, não era o Fleury da repressão política. Quando começaram os primeiros atentados a bomba, o Dops passou a incorporar policiais como ele e outros, que antes combatiam delinquentes comuns. E o Fleury foi para o Dops usando os mesmos métodos que usava no Deic. Por exemplo, pau de arara e choque elétrico. Certa vez, na Delegacia de Roubos, eu vi uma fila imensa. Olhei e fui embora. Mais tarde, descobri que era a fila do pau de arara. No elevador de entrada havia uma placa com os seguintes dizeres: “Contra a Pátria não há direitos”. Essa metodologia do Deic foi para o Dops com o Fleury. Ainda antes disso, havia o fenômeno do Esquadrão da Morte, os policiais que matavam. Quem era o chefe? O Fleury. Quem combatia aquilo isoladamente era este sujeito que está aqui na sua frente. Eu, sozinho, não tinha Judiciário, Ministério Público, coisa nenhuma. Era eu, Percival, maluco, sozinho. Junho 2013 / Revista da CAASP // 25 “ Cabo Anselmo é criação do delegado Fleury”


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