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Revista da CAASP - Edição 05

O PCC hoje realiza prioritariamente tráfico de drogas e mantém uma conexão muito íntima com o contrabando de armas. É só prestar atenção ao que acontece: bandidos com AK 47, metralhadora .50, fuzil Colt AR 15. Esse é outro lado das franquias: terceirização das armas de fogo. Um grupo planeja um grande assalto, e o PCC aluga as armas, com seguro e prazo de devolução. Junho 2013 / Revista da CAASP // 21 Enfrentar tudo isso exige fôlego, disposição e inteligência. Nunca houve uma ofensiva policial efetiva contra o PCC? A maior ofensiva contra o PCC ao longo dos anos foi através do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado, o Deic, por meio do seu diretor e do delegado de Roubo a Bancos – o roubo a bancos era uma das atuações principais do PCC. O Ferreira Pinto, então secretário da Administração Penitenciária, fez uma aproximação que não existia entre as Secretarias da Administração Penitenciária e da Segurança Pública. Pela primeira vez o sistema passou a reunir informações de dentro das prisões para desencadear ações. Posteriormente, houve casos de corrupção nessa área. O Ferreira Pinto decidiu simplesmente desmontar uma máquina que estava consolidada muito fortemente no Deic. Mudou por completo, mas não se faz isso sem pagar um preço. Ele passou a usar as informações oriundas dos presídios, e ao invés da Polícia Civil ele passou a transmiti-las para a Rota. Pode reparar: uns tempos atrás, só a Rota fazia PCC. E até hoje algumas dessas ações são feitas pela Rota. Concretamente, hoje, no embate com bandido, bandido mesmo, a única unidade respeitada é a Rota. Os bandidos não respeitam mais ninguém. Paralelamente, o Ferreira Pinto desestruturou o que a Polícia tinha para concorrer com a Rota. O Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos), do Deic, e o GOE (Grupo de Operações Especiais), do Decap (Departamento de Polícia Judiciária da Capital), não são mais nem sombra do que foram. A polícia ostensiva hoje quer dizer Rota e Força Tática nos batalhões da Polícia Militar - é o que se vê de mais forte nas ruas. Qual sua opinião sobre maioridade penal? Minha perspectiva é sempre o primado do real. Sou jornalista, trabalho em São Paulo, acompanho a atuação da polícia, da Justiça, do sistema penitenciário, e sei o dia a dia do crime. Me desculpem, mas ninguém precisa me teorizar nada, porque eu sei como é que é. Eu vi coisas terríveis. Vi verdadeiros monstros de 15 anos. Há coisas que são ignoradas quando se teoriza a questão. Estamos falando de perda irreparável, dor, pranto, tragédia, destruição da família – e esses itens não fazem parte de processo nenhum. Não existe a dor no inquérito policial, mas trata-se de um sentimento concreto.


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